Blues do Urso Máximo

Antes haviam muitos iguais a mim

Perambulando pelas ruas e matas

Hoje quase todos já morreram

Os que sobraram estão de esmolas

Antes podíamos mudar o mundo

Éramos a maior chave do futuro

Hoje pau mandados de suas senhoras

Eu os sempre chamei de ursos

E quem sabe éramos mesmos feras

Mas a hora do remédio chegou

Pra mudar nossas histórias

Os maiores de todos eles já se foi

E hoje eu rezo pra que não vá embora

Nem sei o que ou quem mais eu sou

Já faz tanto tempo que arrasto

E sou escravo e indigente dessa peba

Essa constante falta de coragem

E nos pisam e nos cuspam sem perdão

Não há mais um perigo na floresta

Somos agora na porrada e no grito

Todos ursos de circo, patifes adestrados

Antes haviam muitos iguais a mim

E o mundo era nossa maior presa

Saudades da caça e do sangue

Coisas simples e de tanta grandeza

Que pena ser quem eu sou hoje em dia

Uma tristeza de conta à gota

Financiada por uma brega burguesia

Chacoalhadas e palavrões em família

E o tempo passa e a noite espirra

Quantos anos sem guerra e sem vida

Ao invés essas cafonas paranóicas brigas

Não há nada mais triste que a extinção

Sem ainda ter morrido ou escutado

Quando o palco fica enorme e escuro

E a platéia diminui em pleno dia claro.