Matrimônio lúdico

Meu lema é: a linguagem e a vida são uma coisa só. Guimarães Rosa

Matrimônio lúdico

Um poema alcoólatra morreu

alcoolizado de tanto beber dicionário

seu caixão de almaço está dentro do armário

ladeado por uma caneta esferográfica

que nutria um grande amor por ele

queriam se casar e ter um lindo poeminha

soneto ou elegia, não importava

desejavam,simplesmente, versinhos

almejavam ensiná-lo

às benesses da vida,

como não poluir o papel

e nem jogar palavras fora

porque hoje em dia

seus amigos poetas

usam pouca tinta e borracha

também sonhavam

que quando poema adulto

ele não pulasse às páginas

do livro dos outros

e nem roubasse os versos alheios

respeitasse sempre,

às linhas dos mais próximos

e nem falasse mal

de nenhum poema alheio

e não fosse antipático

com outros gêneros poéticos

e não se achasse o poema mais belo,

não fosse desleal

nem um poema corrupto

e nem um poema de bibliotecas

com alcunha feia de poemalherengos

que não pode ver estrofe nova

que vai logo chamando para fazer parte,

de sua rima...

seus progenitores só desejavam

uma única coisa

nesse matrimônio lúdico,

para ele ser mais humano

do que os outros poemas

e ensinar com seus versinhos

junto com seu insigne poeta,

a depurar,

essa poluente poesia.

Ton Machado Guimarães
Enviado por Ton Machado Guimarães em 08/07/2016
Código do texto: T5691546
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