Matrimônio lúdico
Meu lema é: a linguagem e a vida são uma coisa só. Guimarães Rosa
Matrimônio lúdico
Um poema alcoólatra morreu
alcoolizado de tanto beber dicionário
seu caixão de almaço está dentro do armário
ladeado por uma caneta esferográfica
que nutria um grande amor por ele
queriam se casar e ter um lindo poeminha
soneto ou elegia, não importava
desejavam,simplesmente, versinhos
almejavam ensiná-lo
às benesses da vida,
como não poluir o papel
e nem jogar palavras fora
porque hoje em dia
seus amigos poetas
usam pouca tinta e borracha
também sonhavam
que quando poema adulto
ele não pulasse às páginas
do livro dos outros
e nem roubasse os versos alheios
respeitasse sempre,
às linhas dos mais próximos
e nem falasse mal
de nenhum poema alheio
e não fosse antipático
com outros gêneros poéticos
e não se achasse o poema mais belo,
não fosse desleal
nem um poema corrupto
e nem um poema de bibliotecas
com alcunha feia de poemalherengos
que não pode ver estrofe nova
que vai logo chamando para fazer parte,
de sua rima...
seus progenitores só desejavam
uma única coisa
nesse matrimônio lúdico,
para ele ser mais humano
do que os outros poemas
e ensinar com seus versinhos
junto com seu insigne poeta,
a depurar,
essa poluente poesia.