Penas
(Escobar Sete, William E. Silva)
Uma pena de asa
quebrou o anil que nos cobre o dia,
desnaturou o verde que nos alimenta,
refratou o branco que nos ilumina.
Pena podre, suja de óleo, embaçou o espelho d’água. Pena porca, tornou estéril o útero da terra. Pena preta, a disseminar fuligem. Pena postiça, pois que não é pena, mas palavra maldita, promessa não cumprida. Pena purulenta.
Penas apenas penas são.
Mas esta aqui caída
foi arrancada à força,
de forma dolorida,
a contra-gosto da ave viva.
Pena usada para escrever mentiras.
Agora, não ando pela estrada,
não nado no rio.
Pela pena imposta,
nem mais voar eu posso.