Talvez Escreva um Poema.

Queria compor um poema sentado ali no meio de tudo

Solitário feito otário

Um tudo quase nada

Muita pena da raça

Da desgraça

Da descarga estragada e a bosta do Mundo boiando

Dos que se regozijam enquanto outros agonizam

Queria fazer um poema do cantor fracassado que dança em frente à banda

Aquela, em que fora expulso

Porque bebia demais

Ao velho que vende caldo na garupeira da bicicleta de corrente enferrujada

Um poema sem tema

Apenas de vida

De alma dura

Fria

De olhar as coisas sem pensar

Talvez o faça um dia

No pronto socorro com suporte sem álcool

Com sangue jorrando e sinapses coaguladas

Ao idoso que desistiu de andar devido ao cansaço

Ao mendigo que pediu demissão da vida

E vive em frente às loterias, não para jogar

Mas por dez centavos

Queria construir um poema ao homem que queria ser político

Porém raquítico e sifilítico

É esculhambado pela cambada de hienas torpes

À jovem mãe com filha morrendo no colo e o médico de plantão iludido com sua conta bancária que alcançou um milhão

Um poema para os que perderam a força e a vontade de caminhar

Que cairam de joelho na terra e dalí não querem mais levantar

Queria manifestar minha opinião com a ação que me falta ao amanhecer

Quando todos compram pães e pedem a Deus um pouco mais.

Um pouco mais de não sei o que...

Talvez um pouco de perdão

Um pouco de ilusão

Eu só queria fazer um poema...

Um daqueles onde não me rotulassem como um remédio no ponto final.

De paz e de canções de ninar

Mas fazer um poema é difícil demais!

É mais fácil amar ou matar!

Fica o querer.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 21/07/2016
Código do texto: T5704849
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