Talvez Escreva um Poema.
Queria compor um poema sentado ali no meio de tudo
Solitário feito otário
Um tudo quase nada
Muita pena da raça
Da desgraça
Da descarga estragada e a bosta do Mundo boiando
Dos que se regozijam enquanto outros agonizam
Queria fazer um poema do cantor fracassado que dança em frente à banda
Aquela, em que fora expulso
Porque bebia demais
Ao velho que vende caldo na garupeira da bicicleta de corrente enferrujada
Um poema sem tema
Apenas de vida
De alma dura
Fria
De olhar as coisas sem pensar
Talvez o faça um dia
No pronto socorro com suporte sem álcool
Com sangue jorrando e sinapses coaguladas
Ao idoso que desistiu de andar devido ao cansaço
Ao mendigo que pediu demissão da vida
E vive em frente às loterias, não para jogar
Mas por dez centavos
Queria construir um poema ao homem que queria ser político
Porém raquítico e sifilítico
É esculhambado pela cambada de hienas torpes
À jovem mãe com filha morrendo no colo e o médico de plantão iludido com sua conta bancária que alcançou um milhão
Um poema para os que perderam a força e a vontade de caminhar
Que cairam de joelho na terra e dalí não querem mais levantar
Queria manifestar minha opinião com a ação que me falta ao amanhecer
Quando todos compram pães e pedem a Deus um pouco mais.
Um pouco mais de não sei o que...
Talvez um pouco de perdão
Um pouco de ilusão
Eu só queria fazer um poema...
Um daqueles onde não me rotulassem como um remédio no ponto final.
De paz e de canções de ninar
Mas fazer um poema é difícil demais!
É mais fácil amar ou matar!
Fica o querer.