alma: gozar

com teu corpo

o meu corpo entra em parafuso

se acende, perde o foco

pega fogo, perde o norte

se dilue em vulcões,

e em múltiplos gozos

me sedimento nas raízes, no chão, por entre pedras

com o teu corpo

o meu corpo torna-se outro corpo

num escopo de devassidão

mas contigo

sem precisar do teu corpo

o meu corpo se delineia, faceiro

SE ARREPIA

faz-se teia, pedra, areia...

e sinto a alma pulsar...devagar

sem apressar os agoras,

sem atrofiar os amanhãs

e algo estranho acontece

perene poético sensual

sem a carne apetecer

ou dá sinal

de sua fome ou sede

sem os vínculos neuvrálgicos se tensionarem

sem nada compreender

sem nada entender

a minh'alma se irradia e jorra alegria

se esculpe e se acende em folias

se floresce em plena luz do dia

em plena euforia

em plena festa

uma loucura doida que se causa em mim

como o invisível o dizer

a celebrar o prazer

que se instala em mim

que se instaura em mim

sem mesmo eu perceber

sem mesmo eu compreender

só sinto que é bom viver

porque minh'alma sente fome

sente sede, sente agonia

da oração suja dos ritmos orgíacos da poesia

que ela se traduz em liturgia

em ritos transcendentes

com as testemunhas das vozes dos ventos

e a minha alma se alumia

se contorce e se arrepia

de quando estar perto de você

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 24/07/2016
Reeditado em 17/05/2021
Código do texto: T5707211
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