rio subterrâneo
nunca tive ninguém
ardo num rio que corre sem cor
dentro de mim
pulo e desvio como posso
dos troncos, pedras e farpas
que me assaltam na contramão da correnteza
mas longos e lentos cortes volta e meia
me acertam
e fazem brotar escarlate
um fluído
que vaza
fogo
das veias
de minha pele lívida
e vai me levando a enxurrada
eu grito rouco e só ouço
o murmúrio das vozes arbóreas
que me acompanham
estáticas e frias
elas apenas olham de longe
não se precipitam
não podem me tocar
se me tocassem morreriam
como eu
num incêndio silencioso