rio subterrâneo

nunca tive ninguém

ardo num rio que corre sem cor

dentro de mim

pulo e desvio como posso

dos troncos, pedras e farpas

que me assaltam na contramão da correnteza

mas longos e lentos cortes volta e meia

me acertam

e fazem brotar escarlate

um fluído

que vaza

fogo

das veias

de minha pele lívida

e vai me levando a enxurrada

eu grito rouco e só ouço

o murmúrio das vozes arbóreas

que me acompanham

estáticas e frias

elas apenas olham de longe

não se precipitam

não podem me tocar

se me tocassem morreriam

como eu

num incêndio silencioso

Jan Morais
Enviado por Jan Morais em 06/10/2005
Reeditado em 18/07/2006
Código do texto: T57241