CANTO XANTO

CANTO XANTO

Gira, gira, gira mundo,

tem dó, não me deixe só solidão,

com a fotografia do meu amor, da minha dor,

como benção na palma da minha mão.

Gira, gira, gira mundo,

Canto Xanto,

quanto espanto: profecias!

Canto Xanto,

eis meu canto!

Desencanto

entoa o rosto amado,

de perfil...

Que triste ardil!

O rosto visado

preso ao papel sob um ponto de vista do presente,

somente uma parte do rosto amado no passado vivido

me é apresentado...

Céus! meu desejo sofre o desejo desejado,

já passado; desejo inteiro, pleno.

Contemplo a imagem recortada,

clamo pela figura no seu todo:

cabelos negros revoltos,

olhos negros tantos brilhos,

pele clara macia... arrepios.

Nuca altiva, semelhante aos deuses!

Assim, recordando, entre o passado e o futuro,

vou costurando o rosto amado,

recolhendo e recompondo fragmentos no presente,

fonte dos meus sofrimentos.

Agora, a busca pelo futuro quase entrevisto!

... mais um pouco, mais um pouquinho...mais um passo, Memória!

Num lapso,

toda a imagem me escapa, se despedaça...

Gira, gira, gira mundo,

giro a fotografia na palma da minha mão,

e o rosto incompleto insiste em dizer:

_ Não!

Silencio...

E silente

gira, gira, gira o mundo

na imensidão sem passado nem futuro sem presente.

PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS

Campinas, é inverno de 2007.