Assim Me Sinto
De quando em vez
Sinto-me como Pessoa (Fernando),
Que sem timidez
Em seus versos entoa:
“Tudo quanto penso,
Tudo quanto sou
É um deserto imenso
Onde nem eu estou”.
Em outras é a Cecilia (Meireles)
Que me norteia,
Pela beleza que concilia
E semeia :
“Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta”.
Poeta não sou,
Mas me sinto um,
Com a mente em rumo nenhum,
Quando solitário estou.
Já me sentindo liberto,
Caminhando, ou sem nada a fazer,
Relembro Cruz e Souza, a dizer:
“Livre! para sentir a Natureza,
para gozar, na universal Grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças”.
Mas se o meu amor clama
Enfrentando o meu olhar,
Insistindo em calar,
É com Vinícius (de Moraes) que acendo a chama:
“Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus
Só pra me provocar
Meu amor, juro por Deus
Me sinto incendiar”.
E quando o fogo pega,
Entrego-me todo,
Sem medo e sem regra,
Porque Drumond de Andrade
Fala-me de verdade:
“O que se passa na cama
é segredo de quem ama”.
Em qualquer situação,
Sirvo-me da poesia.
Com ela a tristeza finto
E ilumino o coração
Atando-me à alegria.
Assim me sinto!