Existi!

Diante duma cruz em um templo qualquer

Quero ver a vida que não deve existir -

Um Pai acima de homem ou de mulher

Havendo apenas para nos ver sorrir.

Uma entidade, um celeste glorioso,

Que se importa com a nossa miudeza,

Um ser perfeito que observa o horroroso

E vê em nossa lama singular beleza.

Toco na cruz. Sinto a madeira gelada.

Será que Deus sente minha alma mais quente?

Busco sinais, marcas, rachaduras, mas nada

Aparece, não importa o quanto eu tente.

Sou, afinal, um amontoado de química?

Sem futuro, sem passado, sem esperança,

Com nenhuma dor ou alegria intrínseca?

Como um grande dançarino que não dança?

Ajoelhado, eu me ponho a chorar;

A madeira morta nem sabe que existo.

Preciso de alguém que possa me salvar,

Alguém que ao menos dê sentido ao martírio.

Um mundo sem Deus não é o mundo

Para o qual minha mente foi preparada.

Dou desesperado um grito que sai mudo

E da minha boca sai apenas falácia...

30/8/2016

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 30/08/2016
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