DESABAFO

DESABAFO

Infelizmente o passado se revela.

Uma acústica infinita

canta toda a angústia

que se passa pelas horas.

O fronte da guerra cotidiana

acorda!

E a corda do relógio

acompanha o coração.

Muitos se levantam,

e a sintonia dos passos

vai revelando o jogo

mútuo de desconversas e de traições.

Raízes de corações amargurados.

As investidas costumeiras

da vida e sua ignomínia.

Quantos morreram pela liberdade,

e hoje, não mais que hoje,

a brutal conseqüência da necessidade de dinheiro.

O encontro imprevisto com um semelhante,

ninguém reconhece e se respeita.

Uma única expressão de esperança

passa pelo vento da periferia.

Somente a fria evidência

dos erros cometidos um contra o outro.

São eles que se erguem, sempre,

os que não prestam

e largam à deriva

o pálido coração de quem se perdeu em múltiplas encruzilhadas.

Despedidas eu faço

e, enojado, caminho

por avenidas velhas.

Velha cidade,

velho corpo

que não quer companhia dos inimigos.

Um único desabafo

e a inconseqüência de mais uma aurora.

FERNANDO MEDEIROS

Campinas, é inverno de 2007.