PSICOSE BARROCA II
Animal acuado no canto da sala,
o que percebe dessa perspectiva?
São lembranças que não se vão,
ou alucinação da túnica conjuntiva?
Sinta-se bem revolvendo esse corpo,
crivado de tão finos e negros espinhos,
nascidos do lado de fora, da realidade,
para dizer que estamos todos sozinhos.
Covarde, mentiroso, destruidor do céu,
dessa jaula não se pode entrar nem sair,
sem que o cheiro da morte se espalhe,
e anuncie o que os olhos querem mentir.
Filho da perdição, aspirante a anjo,
é o junkie mais estilhaçado do mundo,
com os pulsos atados em esparadrapos,
e o peito cheio do amor mais imundo.
Contemple a arte em sua sala de espelhos,
pois todas as mortes viram cicatrizes,
desenham a caligrafia da espreita e da ânsia,
e força nos rostos os sorrisos mais infelizes.
E quando terminar o efeito dos alfinetes,
quando tudo parar de se mover ao redor,
ainda haverá um rinoceronte na sala,
e a dor de estômago cada vez maior.
Mas minha sala agora é branca,
livre de janelas e anjos entediados.
Controlo o futuro em um teclado invisível,
e o passado com seringas e dardos.