PSICOSE BARROCA II

Animal acuado no canto da sala,

o que percebe dessa perspectiva?

São lembranças que não se vão,

ou alucinação da túnica conjuntiva?

Sinta-se bem revolvendo esse corpo,

crivado de tão finos e negros espinhos,

nascidos do lado de fora, da realidade,

para dizer que estamos todos sozinhos.

Covarde, mentiroso, destruidor do céu,

dessa jaula não se pode entrar nem sair,

sem que o cheiro da morte se espalhe,

e anuncie o que os olhos querem mentir.

Filho da perdição, aspirante a anjo,

é o junkie mais estilhaçado do mundo,

com os pulsos atados em esparadrapos,

e o peito cheio do amor mais imundo.

Contemple a arte em sua sala de espelhos,

pois todas as mortes viram cicatrizes,

desenham a caligrafia da espreita e da ânsia,

e força nos rostos os sorrisos mais infelizes.

E quando terminar o efeito dos alfinetes,

quando tudo parar de se mover ao redor,

ainda haverá um rinoceronte na sala,

e a dor de estômago cada vez maior.

Mas minha sala agora é branca,

livre de janelas e anjos entediados.

Controlo o futuro em um teclado invisível,

e o passado com seringas e dardos.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 21/09/2016
Código do texto: T5767784
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