TRANSIBERIANA
Uma corrida sem freios pelos trilhos
cravados no gelo de um quase deserto.
Uma paz gratuita vista de longe,
são músculos mecânicos vistos de perto.
Uma segunda alma que do corpo se destaca,
é um monstro de ferro que ao longe passa,
ignorando os olhos que no caminho se perdem,
e a despedida que jamais se acaba.
Uma metamorfose na natureza molecular
ignora o caminho polido pelo aço.
Agora não são mais rodas, são cavalos,
com dentes perigosos, em direção ao espaço.
Depois, é a flutuação inevitável,
mesmo que em seus corpos não haja asas.
O corpo metálicos virou um fantasma
seccionado em muitas vidas em disparada.
Cada um sem arreios ou vontades prescritas,
libertos em sua própria selvageria.
Sobrevoando os campos distantes da Sibéria,
cuspindo vapores amarelos e fumaça de vida.
Insuficientes em seus propósitos naturais,
é que todas estas vidas decidem morrer.
Para que o que antes esteve preso à gravidade
torne-se estrutura desintegrada e disforme,
ocupe-se apenas da lembrança de quem fica
e da inexistência prevista para todo ser.