VERSOS INFÉRTEIS

Intolerantes versos,

que, como badalos

insistem a atormentar-me a alma.

Se daqueles não mais preciso

para lembrar-me das horas,

de tão vazias,

de vós é urgente esquecer.

Oh! insistentes versos,

que como ruas da minha cidade esquecida,

vêm à sorrelfa turvar-me o sono.

Ferinos,

aparecem sorrateiros

em horas dispersas,

a confundir, como ópio,

a mente enfraquecida.

Oh! insolentes versos,

que teimam em fluir nas veias

a seiva fugidía,

como a lembrança utópica

do membro amputado.

Ah! tiranos versos,

que não me deixais

adormecer na inutilidade

do tempo,

como um espelho a realçar

as marcas sulcadas.

Não mais vos quiz

(sepultei-vos na verdade),

pois como úlceras persistentes

corroestes os sentidos de tudo,

e, como num outro gesto extremo,

não mais quiz respirar-vos.

Ah! ingênuos versos

que ainda sonhais:

despertai,

pois o campo desta alma

é árido,

e a seiva da poesia

é infértil,

agora.