INVERSÃO

Até os bastardos amam.

Amam ideias flutuantes,

amam poemas galantes,

amam projetos para a dor.

Amam a forma mecânica

do vestido que finge ser pele,

para ocultar sua dançarina fria

do toque que se assombra com a morte.

E ela sepulta em seus olhos distantes

a mesma escrita da invisibilidade temporal,

que diz que os recomeços são impossíveis,

e que o amor é a fonte de todo o mal.

No fim de todo limite ultrapassado,

entende da vida, o triste narrador,

que essa dança já começou errada,

e que nada termina no último acorde.

Não importa o brilho dos candelabros,

dizendo ser esta, a noite dos embriagados.

Será sempre o túmulo dos sapatos vermelhos,

portadores dos casos de amor lacerados.

Tudo o que contém esse prazer em ser vítima,

é o coração que enxergou tudo errado.

Por isso o compasso do verbo quebrado,

meio sorriso no canto da boca,

e uma infinita disposição para o dramático.

Toda tentativa de dor é um passo para o esquecimento.

E esquecer-se dentro de outro corpo, tão distante,

tão frio quanto seu próprio sentido enganado,

é uma forma de matar aos poucos

quem ficou do outro lado da vida...guardado.

Ela não voltará para ver minha escrita,

minha tentativa de poema frustrado.

Eu que escrevo com a distância dos viciados,

perdoo com o cinismo do inocente condenado.

No tempo em que ela imitou as esperanças perdidas,

ela precisou do medo para inventar uma outra dança.

Mas agora, que não mais tem seus sapatos vermelhos,

virou fumaça sobre meu papel amarelado, esgarçado,

que em breve será também um imitador do silêncio...

onde se jogam os amores perdidos e o coração quebrado.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 25/09/2016
Reeditado em 26/09/2016
Código do texto: T5772524
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