AZUL ESQUECIMENTO

Nada é mais só que um corne inglês

ao se elevar sobre as cordas em surdina.

Mastiga minhas intenções bárbaras e incertas,

até que de meus braços desapareça o ânimo.

Não falarei de exercícios tolos de harmonia

para todas as manifestações de arquitetura

nascidas para o silêncio e para a ruína.

É que os defeitos falam melhor que a poesia

e o brilho de um olhar perdido na boca de cena

entende todo o drama dos arcos em atrito.

Nestes último instantes de uma canção tola

importa a dobra estranha que o tecido faz,

quando pousado sobre as coxas da dama

expatriada em um quadro em frente ao mar.

Mar feito de cartas que não mais se escrevem,

céu feito de saudades sintéticas e tolas.

Perdi aquilo que a boca se recusa ante a poesia.

Na manhã que se seguirá, de algum dia,

eu direi pelo fraseado de um pássaro mecânico:

"inventei para contar as horas, as mentiras e o espanto.

Um apanhado de falsos números e verbos raros e estranhos."

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 27/09/2016
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