Tempo, mano velho tempo

tenho tido tempo

tanto, mas tanto tempo

que já me esqueço de olhar as horas

e as mãos ansiosas

agora repousam nos bolsos

guardando a certeza dos loucos

de que não há nada para ser feito

quando o muito toma o pouco.

sentei num pé de muro

ao lado da hera e da erva-daninha

fiquei desperdiçando tempo

desfazendo casa de formiga

mas deu que tudo parecia mais devagar

quando era pra ir depressa

desenrolei então de uma tira de couro

uma ampulhete de vidro

cobre e ouro

a areia desliza, escorrega, cai

mas o tempo não passa e eu não quero mais

dei pra andar na vida

ao contrário

tipo curupira

pra ver se influencio no tempo

mas ironicamente tudo parecia o mesmo

tentei até falar com o tempo

contei causos, a vida dos apóstolos

fiz a ele poesias, monólogos

mas ele me respondia com um eco rouco

e eu imitei pato, marreco, reco-reco

e ele silenciou

e para sempre

e agora, eu tenho todo o tempo do mundo.

Laís Mussarra
Enviado por Laís Mussarra em 24/07/2007
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