Tempo, mano velho tempo
tenho tido tempo
tanto, mas tanto tempo
que já me esqueço de olhar as horas
e as mãos ansiosas
agora repousam nos bolsos
guardando a certeza dos loucos
de que não há nada para ser feito
quando o muito toma o pouco.
sentei num pé de muro
ao lado da hera e da erva-daninha
fiquei desperdiçando tempo
desfazendo casa de formiga
mas deu que tudo parecia mais devagar
quando era pra ir depressa
desenrolei então de uma tira de couro
uma ampulhete de vidro
cobre e ouro
a areia desliza, escorrega, cai
mas o tempo não passa e eu não quero mais
dei pra andar na vida
ao contrário
tipo curupira
pra ver se influencio no tempo
mas ironicamente tudo parecia o mesmo
tentei até falar com o tempo
contei causos, a vida dos apóstolos
fiz a ele poesias, monólogos
mas ele me respondia com um eco rouco
e eu imitei pato, marreco, reco-reco
e ele silenciou
e para sempre
e agora, eu tenho todo o tempo do mundo.