CÂMARA ESCURA

A apatia se aglomera no estado do repouso

das minhas mãos que nem se manifestam.

Um lodo espesso sabotando engrenagens

e o tempo para perceber o som reverberado.

É um tiro atrasado.

Nenhum relógio realmente funcional,

nenhum movimento para ocupar o espaço.

É só a flor interrompida pela navalha,

pousada fúnebre num vaso de prata.

É só o calor arrefecido da xícara inglesa,

e o frio que avança até os pés à beira do mundo.

Nunca o intencional foi tão obscuro.

Para todos os poetas de procedência burocrata,

para todos os viventes de entendimento truncado,

para todas as Marias na noite negociadas,

para todos os invertidos na poesia criptografada,

para todos os arquitetos da abóbada celeste,

para todos os prisioneiros do vício particular,

para toda cura do fanatismo e da peste,

segue o meu tédio em forma de caridade.

Certeza, apenas uma: nunca mais vou voltar.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 02/10/2016
Código do texto: T5779367
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