Ainda sem nome

Ainda sem nome a poesia não pensada e não sentida;

e o verso rascunhado vezes sem conta

no verso da conta não paga...

Ainda sem nome e sem rosto - um esboço só do que seria

se fosse mesmo poesia ou fosse quase gente;

se fosse gerada, mas não! Ainda não!

Porque haverá um tempo em que a poesia aflore

ainda que eu não chore enquanto espere

no suceder contínuo de estações.

Por isso ainda é sem nome a poesia,

porque há fome sim; porém, sem ânsia

aguardo enquanto tarda ou que não venha...

Espero, enquanto posso, o despertar

da quase-poesia em minha vida

de fome insaciada - e do desejo;

moventes para um corpo estacionado

ou rio feito um lago estagnado...

Mas há de vir o dia em que ela nasça

e a dor que era vazio e que era ausência

não vai mais impedir-nos da existência;

e até hei de sorrir um riso torto

enquanto volta à vida o que era morto;

enquanto aprende o mar quem só foi porto...

E mesmo sem ter nome e sobrenome

será reconhecida a cada passo

em seus traços herdados - meu genoma...

A minha poesia - ou quase um eu!

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 08/10/2005
Código do texto: T57891