POEMA DA ROSA
Quero cantar a rosa,
a pura, a simples rosa,
num vaso de janela.
Quero cantar a rosa do povo,
como quem sangra pelo caule,
mas cantar a rosa,
tão, senão, mais cantada que a lua:
uma outra espécie de rosa
suspensa no espaço.
Quero poetizar a rosa junto ao peito
com a ternura de um abraço,
recebendo os seus.
quero cantar a rosa ,
ainda que ela seja triste
e tenha o pesar de mil estrelas.
Quero cantar a rosa da memória,
a rosa delicada como mão de princesa,
cantar outras e sempre as mesmas rosas,
que fogem de suas raízes
e voejam por outras cifras.
Quero cantar a rosa
que seja o movimento
pacífico da água mansa.
Quero cantar a rosa das paixões,
sua sobrevida em vergéis íntimos.
A rosa pode ser pluma e vergasta,
pode nascer no seribó,
pode se escorar num muro,
pode desabrochar de ti.
Quero traduzir a rosa,
fibra por fibra,
salvar da morte suas pétalas
guardando-as em um livro como um tesouro.