Horas Retrógadas

Queimo a língua em labaredas e digo que

Nem todos os mortos são hostis.

Na agonia do limbo seco e sem flores te dão as mãos

E sem entendimento desvencilham-se dos caminhos iluminados.

Pés plantados nos raios de luz e na lama gelada do pântano...

Sentemo-nos para ouvir o coral angelical que brilha ao meio-dia.

Mentiram. Isto não é o limbo!

Fecharam as celas.

Os carcereiros nos limitaram o espaço, o tempo e o conhecimento.

Atiraram-nos dentro desta esfera sem luz e nos envenenaram com mentiras.

Puseram cicuta em nossas bebidas.

Nossa única sorte é a subsistência.

Sairemos deste tétrico lugar.

Inspiremo-nos na lagarta. A metaforfose.

As respostas!

As verdades!

As malditas palavras soltas sob minha testa não me respondem nada.

As cordilheiras gemendo no frio calmo que nos levam e trazem lembram-me

Que emergi do inferno trazendo em cada mão um punhado de diamantes brutos.

A estas horas envelhecidos estão e de nada me valem.

Arruinei-me ao contar com o relógio

As horas se foram levando resquícios das palavras soltas sem nenhum propósito

Ignoro-as tentando dizer-me algo que ressuscite-me.

Adormecidas estavam em um beco gelado no limbo, e eu as vi.

Fazem parte do inferno.

Meus diamantes brutos deslizam no lodo a caminho do abismo, já não importa.

De nada me valem.

Nenhum ruído ouço agora.

Manifesto apenas a dor das limitações impostas.

21/10/2006

Corina Sátiro
Enviado por Corina Sátiro em 28/10/2016
Reeditado em 28/10/2016
Código do texto: T5805714
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