São os domingos da alma
Quantas vezes mais fugir de casa?
Vamos apagar todas as luzes?
há uma arma escondida em cima do roupeiro,
feita com a madeira da árvore do quintal.
os pais são como caixeiros viajantes.
os vizinhos empinam pipas,
precisamos de roupas novas.
helicópteros sobrevoam as casas do bairro.
quem sabe os fugitivos retornem no natal.
as mãos tem um cheiro bom,
e continuam suaves os sorrisos na memória.
as pessoas vão mudando,
os cães envelhecendo.
o carteiro procura por alguém,
acena todos os dias pela manhã.
é uma novidade o velho toca-discos.
café da manhã aos domingos é um ritual,
cumprido com maestria. Foi a promessa.
são os domingos da alma.
as visitas vão se movendo até chegar
em todas as casas, ainda chamam
pelo apelido de infância.
às vezes a vida é calma como as
cidades do interior.
às vezes o coração bate acelerado.
depois de um tempo, todo o sonho é
dirigir por uma autoestrada.
de repente tudo é paisagem de cartão-postal,
pintura a óleo na parede do mundo.
somem todos os motivos que obrigavam
pedidos de desculpas.
continuam suaves os sorrisos na memória.
a pele tem um cheiro bom.
(Hans Cristian Koch.
Francisco Beltrão/PR. 25/05/2012).