De Tanto Amor

De tanto amor

me despi de um envólucro

e rejuvenesci anos-luz.

De tanto amor

cantei, cantei, cantei...

de tanto amor

ainda canto

E chego agora fora de hora

porque tu não estás mais.

De tanto amor

fundimos nossas almas

pra sermos apenas uma

Afoguei-me em teus olhos quando choravas

engolindo lágrimas minhas e tuas

De tanto amor

Roubei-te a luz dos olhos

que a mim iluminam pelas noites infindáveis

De tanto amor

tive sede e então bebi teu gosto doce

E tocaste meu corpo livremente

E provaste meu gosto

Enquanto nos sentiamos,

todos os portais se abriam

à brisa e ao vento

De tanto amor

já não percebia meus medos

e desenraizavam-se os teus

já descobria teus segredos

únicos e persuasivos

E te sentia dentro e fora do ventre

Amordaçavas-me a alma

De tanto amor...

Céus, então torturei-me

ao deixar-te naquela estação!

ainda assim te busquei em todas as horas das noites e dos dias que se passavam

Ainda te busco entre as folhas secas do meu jardim

De tanto amor

Esmurrei-me, acendi, apaguei

Que amor e este?

Se me transforma e transtorna

destendendo-me nervos

para a morte de todo o sentido

n'um forte gemido de prazer e dor

Nao sabemos que amor é este!

Orgástico e desastroso

De tanto amor,

enfim, desejei acordar para deixar-te.

Corina Sátiro
Enviado por Corina Sátiro em 13/11/2016
Reeditado em 21/09/2020
Código do texto: T5822202
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