URBANIDADE

Nada a lamentar. Sonhei uma realidade sob luzes urbanas, ao nascer da noite as avenidas corriam para o infinito. Onde estive. Imagens esculpidas pelas sombras de edifícios de aparência desabitada. Desvio o olhar. Esperava um enlace de estrelas, um roteiro novo para viver. Vinha-se pela estrada com os olhos fechados. Ficávamos emudecidos, trocando os dedos das sensações. Num intervalo, a pele de um espaço de ninguém, uma cidade para que se viaja na esperança de abafar o tédio. As fotografias lembram-me a presença da solidão, o sorriso comovido de quem respira por instinto. Outras luzes contornadas no horizonte como signos de uma visão de sombras líquidas. Nunca sabemos o que somos. Nunca sabemos pelo que viemos. Nem os vultos nos jardins, ou nos parques de diversões aqui expostos à melancolia – sabem. Porque tudo pertence ao mundo no seu silêncio. Quero dizer-te ao ouvido do vácuo qualquer verdade, útil ou inútil. Percorremos alamedas entre plátanos, a névoa azulada tornava indistintos os nossos corpos, sei - brilham aquelas lâmpadas verticais da publicidade eterna, o assédio manifesto da solidão: repito, repito.