O Papo Chato de Sempre
Revirava os olhos de tédio,
cansado com o desfazer
de tanta coisa, tanta gente
que fala do mesmo papo chato
– retrato de um mesmo pôr de sol.
O estômago embrulha
com o desagrado de tanto circo,
tanto espetáculo. ”Espetáculo...”
Espeta a alma o tabernáculo
de tanta dor e fantasia,
esse monte de desleixo,
preguiça de ser-outros,
como a minha, pobrezinha,
que não tem o que fazer em si
e vai de si dizer a quem não ouve
porque faz a mesma coisa.
Sentia uma câimbra no cérebro,
submerso em uma terrível hemorragia
de cultura humana que reclama,
proclama, conclama suas dores,
romantismo, orgulho, preconceito
e papo chato. É chato quem reclama,
e é chato quem se ama demais
e quer versificar o tempo todo.
Diversificar, então, quem é que pede?
Eu peço. Mas peço a mesmo passo,
com a azia da pimenta que me lançam:
sem uma palavra, a onda de amores,
de rancores, sertanejo e humanidade,
o que me pede senão um desenho
feito de catarro? Só pra variar –
pra avariar esse clima sempre nobre,
sem nobreza, de tão gasto, muito pobre.
E o sem-nome, nessa sede
de brincar e não o chamam,
nessa fome de jogar de alguém um jogo,
fechou os olhos e reclamou em versos.
Já não aguentava a velha arte.
Nem com planetas quis rimar.
Poderia. Sim, poderia, é claro,
mas optou por escarrar
e cuspiu pra cima, de propósito.