Elegia da vida eterna

Já passei da vida depois que a nossa foi embora.

Mas a nossa constante possessão de se afundar

está nos levando pra um caminho inconsideravelmente correto,

que bem sabemos que não se trata de um bom caminho.

Já estamos pegando carona no caminho do outro

e minha cabeça está queimando pneus, mas insistentemente

o meu corpo te pede e eu passo por cima da cortina de fumaça

e vejo um campo todo gramado e a porta para retornar a vida,

mas ai, a estrada começa a aparecer os buracos

e a verdade é que morrer eu já morri,

mas será essa a condenação pra quem morreu de amores?

Viver eternamente o gozo seguida da angústia?

Você já disse que não quer e no outro dia eu acordo do seu lado,

no outro, não vejo mais ninguém.

Será esse o inferno? Não ter tempo para não sermos mais nada?

Morrerei até a consumação dos séculos.

Dias seguidos de noites, todas as noites

morrendo no teu corpo e me matando quando não estiveres presentes

na agonia da sua ausência e no envenenamento da tua presença.