Sentimento Urbano

O tempo passou/

A liberdade foi ofertada/

No alto do palco/

A bandeira se elevou/

Brasil, então se bradou/

E aquele povo humilde/

Oriundo das senzalas/

Das matas selvagens/

Do chicote opressor/

Continuam comendo miséria no corredor/

Saíram benzidos de uma ditadura/

Pra gritar nas ruas/

Pra subir nos palanques/

Pra erguer faixas/

E chorar emocionadamente, em tom galante/

Por essa Democracia/

Que em dias e dias/

Revela-se perversa a luz da verdade/

Pois que são tão poucos os manobristas/

Mas conseguem transformar a esperança de um sonho/

Numa favela de órfãos e ignorantes/

Onde todos dizem e fazem o que querem/

Dançam e riem/

Mas no final das contas, sempre dizem amém/

Vão e vem trazendo uma carta nas mãos/

Mas, no Estado, não assumem o seu papel/

São verdadeiros infiéis/

Passageiros em agonia/

Um mal em si/

Querendo ainda construir/

Um país/

Mas que lugar seria esse/

Paraíso do inferno/

Se hoje, que se conhece como lei, é a desigualdade/

Numa impunidade, que faz audaciosos ousarem fazer apologias a corrupção/

Ao crime e a prostituição degenerada/

Que fazem da sua casa, do seu filho, do seu suor, apenas uma tralha/

Mas o medo, a violência desenfreada/

A todo instante passa no andor/

Já se falou muito, já se morreu, já se matou/

Mas pro tempo que se morre a vida/

Nessa indiferença de qualquer avenida/

A justa medida permanece asfixiada na garganta/

Permanece indignada na alma/

Nesses poucos longos anos/

Acomodaram-se nas calçadas/

Com as migalhas dessa sofrida estrada/

A fazer muito pouco pelo amanhecer/

O que será dos rios, dos pássaros e das nossas matas/

Se não temos memória e ainda não aprendemos a ler/

Só você pode dizer/

Só você é o fim e o inicio, em si mesmo/

Você é tudo o que eu queria/