Acima do chão

Suam os pés.

As pernas batem

joelhos.

Anos nebulosos

levam-me à porta.

Por que não abro

as janelas e fico

a espiar a rua?

Quem descreve

agora a face

de Deus?

Respiro.

Sopro a poeira

dos móveis.

Nada sei da pós-

modernidade.

São cômicos e trágicos

os filósofos do asfalto.

Despertam doidas

palavras nos cadernos

da vida.

Manhãs deslizam

no telhado.

Ando às cegas

antes da tarde.

Acima do chão,

escorrego, nos

sentimentos, saio

do escuro abismo.

Não vejo marcas

no rosto à espera

da viagem.

No trem antigo

não levo malas.

Pedro Porta
Enviado por Pedro Porta em 09/12/2016
Reeditado em 09/12/2016
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