O vento, o mar e a cidade

Aquele vento de uma tarde de agosto

sussurrava em meus ouvidos de relance,

enquanto encontravam de frente a minha cara.

Eu, lá dentro deste molho escaldante e de cor púrpura,

a que chamamos consciência,

sabia o que me dizia,

mas não queria, e deixava passar...

A cidade de cor cinza, como o céu e um certo mar

quebrava por fora das janelas do carro

e anunciavam incansavelmente o que viria.

Eu não sabia cá por cima,

mas lá embaixo, suprimido por uma vontade morta,

um querer sem saber,

um querer gostar,

um não saber nem conhecer - mas querer gostar -,

não me deixava assimilar o que queria aquela tão vivaz monotonia

Aquela brisa, aquela vista posta sob o céu chuvoso,

aquele mar tão denso e raivoso,

já me eram nostálgicas antes mesmo de virem a ser

E foi nisto que perdi-me!

Não encontrei o que pareciam anunciar,

mas apenas o realmente anunciavam:

a necessária e mórbida introspecção.

Eduardo G Silva
Enviado por Eduardo G Silva em 11/12/2016
Reeditado em 10/01/2017
Código do texto: T5849855
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.