A Incrível Jornada da Alma
No covil das promessas quebradas
No ardil das palavras que não significam nada
Na torpeza dos que beijam sem amar
Na riqueza que não sabe se doar
No silêncio sepulcral das madrugadas apáticas
Nas espadas reluzentes, rentes, monocromáticas
Nos cemitérios cheios e nos corações vazios
Nos espinhos rasgando a pele, nas pedras ferindo o caminho
Nos sorrisos corroídos pela cárie do sarcasmo
Nos corpos convulsivos impelidos pelo orgasmo
Na doçura da mentira e na dureza da verdade
Na escolha angustiante entre a agonia e a crueldade
Nas noites sombrias, nos dias de trevas
No sorriso que esconde, na lágrima que revela
No pulsar do coração onde um grito de horrror se cala
A observar a paixão da mão a escavar a própria vala
Na liberdade dos penhascos, nas grades da jaula
Nas praias desertas caminha a minh'alma
Sem chegadas, sem paradas, sem pegadas
Como a gota no rio, como a poça na enxurrada
Perdida na escuridão da prisão da humanidade
Minha alma clama em vão pelo grão de liberdade
Pois sabe que pior que que o algoz da sentença
É a indignidade do inocente que não tendo culpa a aceita
O corpo sangra da ferida que nunca cicatrizará
A lápide é única face que nos restará
E imprecisa na escolha entre o inferno, o ermo e o ermitério
Descansou sonolenta na placidez modorrenta nas sombras das cruzes de [cálidos cemitérios.