Sobre o Teu Silêncio Fecundo

Eu não te sinto

E há dias assim.

E perco-me no meu humano desamor

E encontro-me e tão somente

No teu perfeito amor.

| ele tão cheio de razões para;

eu tão cheia de razões para não parar.

ele tão cheio de conceitos;

eu tão cheia de dúvidas.

ele tão cheio de “amanhãs”

eu tão entregue à minha dor do hoje.

ele tão impaciente.

eu apenas observo e calo

a minha boca maldita |

Laceram-me o coração os gritos

Que vêm do outro lado do bosque.

A dona do meu espelho chora

Empática à sua dor, choro e oro.

É prima irmã da minha dor

De outrora.

Escapam-me lágrimas no abraço

Àquela que sente o meu cansaço

De outrora.

De caber nos julgamentos alheios

Mas pertencemos, juntas, então

Ao grande amor daquele que há de vir:

Aquele que nos consola

E que nunca nos vira as costas.

Único. Amor profundo.

Ele é tudo e seu é todo o mundo.

Aflita e eu não te sinto.

Ambígua inquietação e paz:

Inquietação com as coisas do mundo;

Paz que não é deste mundo

E que reside entre um respirar e outro.

E eu não quero mesmo caber

Nos adjetivos tantos do mundo.

Sou tua e adormeço profundo

Na tua paz que a minha alma inunda.

Descanso em teu silêncio fecundo.

Eu não te escuto.

Há dias assim.

Peço que tu sonhes com os meus sonhos:

Frágil encontro-me.

Dá-me um coração obediente.

Eu não te escuto.

Eu sei que tu afagas os meus pensamentos infecundos.

… Repouso quieta em teu silêncio profundo.

Karla Mello

04 de Janeiro de 2017

Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 04/01/2017
Reeditado em 05/01/2017
Código do texto: T5871941
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