PROCURA

Eu me propus, um dia, numa aventura ousada,
Achar tua alma por milênios procurada...
E em sonho louco, entrecortado de esperança,
Eu te busquei pelas manhãs de primavera...
E dentre as flores do jardim de uma quimera
Eu te esperei na mais fiel perseverança!
 
Pedi, um dia, com profundo sentimento,
Pudesse ter-te nem que fosse por momento,
Alma com alma ardendo na mesma emoção!
Sondei-te, em vão, pelas manhãs ensolaradas,
No vai e vem destas marés esbranquiçadas,
Vendo o horizonte mergulhar na imensidão!
 
Eu me perdi em madrugadas orvalhadas,
Sorvendo dores de paixões inexplicadas
Que dentro d'alma me ardiam em solidão!
Cerquei-te em preces nas mansões angelicais
E em tristes versos prometia em madrigais,
Que por inteiro eu te daria o coração.
 
No entardecer ruborizado de harmonias,
Por entre a brisa sussurrando melodias
Eu vislumbrava a tua sombra em cada trilha!
Cantei-te o amor em meigas tardes vaporosas
E nas estrofes de cantigas langorosas
Vi-me Dirceu a te sonhar como à Marília!
 
Mas isto tudo foi um prêmio ou foi castigo?
Por que me deram conhecer-te e estar contigo
Se me isolaram neste mundo de saudade?
Eu bem pressinto o teu olhar, mas não te vejo,
Minha alma pulsa de desejo e não te beijo
E nos separa a dimensão da eternidade!
 
Ah! como é triste e malfadada a realidade:
Cheguei cedo nesta vida e tu tão tarde...
Não te tenho e não me tens, não és minha nem sou teu!
Mas, que me importa esta saudade, esta distância
Se a ânsia que suporto no meu peito é tua ânsia,
E se a dor do pranto teu dói aqui no pranto meu?
 

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Fundo: Moon River ( Henri Mancini)
Nelson de Medeiros
Enviado por Nelson de Medeiros em 10/01/2017
Reeditado em 22/03/2020
Código do texto: T5878080
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