Breve biografia de um homenzinho preso na garrafa

A moldura o tapava

Saiu no canto da foto borrada

Papai, doente, tremia com a máquina

Calou -se de vez chegando aos quinze

Ficou sem sal de matraca calada

Passou dos vinte e perdeu o jeito

Ficou quadrado

O cadarço apertado no tênis

Denunciava a falta de estilo

A juba e o papo esgasgado

Palhaço gago, fazia piada

Aquele ovo estralado, sua cara

E a sirene vermelha era espinha

Por puro fraquejo, casou-se sem posses

Achou dona bem feita

Virou pai, deixava a mulher tomar conta

Era um traço sua sombra

Desnutrido ficou

Desistiu do sofá

Da esposa e seu eterno tricô

Lucrou alto, descobriu que o avô

Foi dono de um quarteirão

Juntou tudo e fez um leilão

Deu dinheiro, mas gastou com mulher

Deu no pior

Meteu a cara em navalha

Fez força, liquidou dividendo

mas, falido,

dormiu em balcão de birosca

Acordou dissolvido na possa

Misturou-se ao sabor da cachaça

Virou vasilhame de pinga

E dá nome a caipirinha até hoje

Michell Niero
Enviado por Michell Niero em 01/08/2007
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