O corpo de minha mãe

Não tenho visitado o túmulo de minha mãe.

É que seu corpo nunca saiu da minha placenta

Seu cheiro define o resto do meu olfato

Seu abraço é o colo que dou aos meus filhos

Sua voz é a que eu reproduzo nos ouvidos que me entoam

Sua fartura é minha abundância de fomes

Seus olhos são minha esperança no que ainda não vi

Seu beijo no olho é benção diária sobre meus escuros

As linhas da sua mão são as meadas dos meus tecidos...

Não tenho visitado o chão onde o corpo de minha mãe se enterrou, porque o céu onde seu sorriso voa me azula a cada manhã.

Finados não fui. Aniversário passou. Natal também não me levou. As estrelas já fizeram oito anos de noites

e as flores continuam chegando por meu pai, seu Cheiro. Em mim, tudo jorra dentro e fora do meu corpo vivo, leito dessas afluências que não secam jamais...