METADE VIDA, METADE BANDEIRA

METADE VIDA, METADE BANDEIRA

Foi simplesmente

quando eu me distanciava dos portos.

Foi simplesmente neste instante

que eu me despedia dos mortos.

Foi simplesmente

quando eu me aliava aos dias.

Foi simplesmente neste instante

que a multidão lotava as praças vazias.

Foi simplesmente

quando eu sonhava nas praças.

Foi simplesmente neste instante

o enterro de muitas desgraças.

Foi simplesmente quando a lua cheia

fez-me pensar na poesia como candeia

e me esquecer do homem como cadeia;

fez-me lembrar da cor do sangue

da minha veia.

Foi simplesmente nesta hora

que eu me despedi desta cruz

para sair renascido,

cantando com outras vozes

a cantiga da luz.

Foi simplesmente assim

que me lembrei do homem,

não como metade osso, mas metade madeira.

Lembrei-me do homem

metade vida, metade bandeira.

FERNANDO MEDEIROS

Campinas, é inverno de 2007.