Trajetória

Estou enterrando muitos nomes

ainda não sei se algum deles catalepticamente voltará a fazer sol.

Estou desafiando o perigo,

não muito,

guardo em mim, com egoísmo, toda minha covardia.

Estou desamando,

preciso de tempo em clínicas especializadas,

não fiz minha

— ainda a ficha —

no entanto,

penso diariamente neste desatino.

Não voltei a sorrir desprotegendo o céu,

continuo olhando a planície cheio de montanhas,

em segredo dialogo com os mortos

em respeito as crianças

estou morando num mosteiro cor-de-rosa.

Paguei minhas dívidas sem deixar de dever.

Voltei a estudar o silêncio das plantas

a chutar bolas e paralelepípedos

a sofrer dores de cabeça.

Comecei a pensar em deus e não tive sucesso.

Arrancaram meus olhos azuis e não puseram nada no lugar.

Eu orei,

digo!

Eu rezei!

Eu pedi!

Atendido?

Fui atendido por uma cadeira de rodas.

Não desisti,

ainda tinha forças no braços.

Então;

a enxada parou de mexer e disse:

os braços de um homem de nada servem se

o que roças é de outro.

Assim,

vou indo,

úmido,

descendo suavemente na chuva

sem padecer parado,

durmo ainda com ajuda de psicotrópicos

sem perder com isso o que mais estimo.

Toya Libânio
Enviado por Toya Libânio em 03/02/2017
Reeditado em 04/02/2017
Código do texto: T5901096
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