Trajetória
Estou enterrando muitos nomes
ainda não sei se algum deles catalepticamente voltará a fazer sol.
Estou desafiando o perigo,
não muito,
guardo em mim, com egoísmo, toda minha covardia.
Estou desamando,
preciso de tempo em clínicas especializadas,
não fiz minha
— ainda a ficha —
no entanto,
penso diariamente neste desatino.
Não voltei a sorrir desprotegendo o céu,
continuo olhando a planície cheio de montanhas,
em segredo dialogo com os mortos
em respeito as crianças
estou morando num mosteiro cor-de-rosa.
Paguei minhas dívidas sem deixar de dever.
Voltei a estudar o silêncio das plantas
a chutar bolas e paralelepípedos
a sofrer dores de cabeça.
Comecei a pensar em deus e não tive sucesso.
Arrancaram meus olhos azuis e não puseram nada no lugar.
Eu orei,
digo!
Eu rezei!
Eu pedi!
Atendido?
Fui atendido por uma cadeira de rodas.
Não desisti,
ainda tinha forças no braços.
Então;
a enxada parou de mexer e disse:
os braços de um homem de nada servem se
o que roças é de outro.
Assim,
vou indo,
úmido,
descendo suavemente na chuva
sem padecer parado,
durmo ainda com ajuda de psicotrópicos
sem perder com isso o que mais estimo.