SIDO
Eu que já fui canção, já fui baleia
Já fui gente, bicho e coisa mista, tal sereia
Já fui são, empregado, coisa e dor
Fui poeta, cientista, coisa (de novo) e amor
Eu já pensei e depois senti
Descobri que era um erro,
Daí passei só a pensar
Pois se pode pensar e sentir
Mas não consigo sentir pra pensar
Eu penso em sentir, penso tanto que sei que é loucura
Penso tanto que sinto só pensando,
Já nem preciso mais
Quando penso que fui, também
Sinto que estou sido de algo,
Eu fui, logo, estive um certo tempo sendo,
Sou hoje uma dobra de sido de gente, de bicho de coisa mista tal sereia,
Estive sido de baleia, estive sido são, havia sido empregado (coisa que apraz, não)
Sido de cientista poeta, dor, sido de pouco amor (para quantificar)
Mas das coisas que lembro ter estado sido, lembro-me que fui coisas, muitas coisas...
Sido muitas delas eu até que me sinto bem
Mas isso, isso é sentindo que sei que estive sido
Pensando, ah! Pensando é distinto...
Pensando é isso tudo que havia sido eu
Só que com mais coisas e sem sentimento algum
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in “Eternal do Tempo, A” – pág. 28 -BN-