SIDO

Eu que já fui canção, já fui baleia

Já fui gente, bicho e coisa mista, tal sereia

Já fui são, empregado, coisa e dor

Fui poeta, cientista, coisa (de novo) e amor

Eu já pensei e depois senti

Descobri que era um erro,

Daí passei só a pensar

Pois se pode pensar e sentir

Mas não consigo sentir pra pensar

Eu penso em sentir, penso tanto que sei que é loucura

Penso tanto que sinto só pensando,

Já nem preciso mais

Quando penso que fui, também

Sinto que estou sido de algo,

Eu fui, logo, estive um certo tempo sendo,

Sou hoje uma dobra de sido de gente, de bicho de coisa mista tal sereia,

Estive sido de baleia, estive sido são, havia sido empregado (coisa que apraz, não)

Sido de cientista poeta, dor, sido de pouco amor (para quantificar)

Mas das coisas que lembro ter estado sido, lembro-me que fui coisas, muitas coisas...

Sido muitas delas eu até que me sinto bem

Mas isso, isso é sentindo que sei que estive sido

Pensando, ah! Pensando é distinto...

Pensando é isso tudo que havia sido eu

Só que com mais coisas e sem sentimento algum

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in “Eternal do Tempo, A” – pág. 28 -BN-

Leonardo Martins Nietzsche
Enviado por Leonardo Martins Nietzsche em 05/08/2007
Reeditado em 06/08/2007
Código do texto: T593710