Acessos

Naquele dia, antes da chegada do poema, vestiria preto

modo de que a ausência de cores e o escuro da noite

dissessem, por fora, o luto e a luta que há em parir viver.

Sempre impreciso o lugar de uma e outra coisa,

vida e morte, instante por instante, repetidas vezes

irrepetíveis e irrecuperáveis, vazios de eternidade.

E todas as fendas havidas ávidas entre outra e outrora

cena, retratadas agora, no poema, essas fleurs du mal

a carpir e acender acessos, palavra por palavra no rio

de sangue e lágrimas que corre o mar vermelho do corpo,

enchente de faces e caras, risos, ruídos e ruínas de alegria

que atravessam toda procura, pr'além do bem e do mal.