CANÇÃO DE VENTO

Nas horas tristes, vejo o sorriso da dor

a me pedir calma e silêncio.

Tudo passa, e tudo corre como o rio

sem pressa por entre as pedras.

E as saudades cachoeiram...

E as solidões me navegam...

E sou barco à deriva do destino

seguindo na curva do vento.

E sopro um lamento que se esvai

e ecoa aqui dentro feito canto de sereia...

Numa noite qualquer, eu vejo o olho da estrela

a piscar madrugada afora. E depois,

no primeiro raio de sol, lacrimejam

os cristais do orvalho da espera

de um novo dia a prometer espantos.

Mesmo quando não houver mais chance,

quando tudo parecer perdido, ainda assim

farei a aposta na mesa da vida,

nesse jogo de cartas marcadas.

A vida pede coragem e alegria,

mesmo no escuro, mesmo no vazio,

mesmo na ausência de tudo aquilo

que nunca nos chega e que jamais se alcança.

Tenho por mim que o destino é uma teia

urdida por tecelões invisíveis que brincam

de esconde-esconde com os sentimentos alheios.

Em silêncio me recolho para dentro do poema,

onde encontro a chama de brilho infinito

que me faz seguir adiante.

Debulho as palavras, uma a uma, e vejo

que são sementes que planto

feito canções que deito ao vento.

Viver é um mistério quase indecifrável.

Apenas quase. Pois no mistério do sopro da vida,

tristezas são o meu alento, a contraparte

das alegrias que reinvento.

José de Castro
Enviado por José de Castro em 01/04/2017
Código do texto: T5958137
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