A TELA

Horas lentas

sentada olhando o horizonte

temendo seu atraso áspero

ou seu aceno com trejeitos imaturos

Persigo sua presença

até nas folhas que dormem

enquanto angustiada

a pele, minha destona na paisagem

Persigo num contexto cinza

e um silêncio impuro em vale fértil

Sequer percebo o assento incômodo

e as aves a pousar em meus ombros

Confundo meu ser com meu mal estar

Deslocada em meu próprio mundo

qual como criança esquecida

feito doente à espera do sol

me vejo febril e impotente

Sangue lento pelas veias

perdida entre a dor penetrante de partir

e a inércia dormente de esperar

Sequer caminharei descalça,

sôfrega e aos tropeços.

Lampejos de cor ou lucidez

insistem na demora

Moldada à silhueta do morro

Sem forças para subir

Ou equilíbrio para descer

Mantenho-me sólida e morrendo

Como qual figura abstrata

de uma tela no porão de sua casa