Sexta-Feira

Até que aqui nos ajudou o privilégio.

"A água passa, a areia fica no lugar"

Para nós, areia. Pros outros, todo mar.

Tanto sal, tanta condescendência.

O mar do náufrago, deserto.

Insalubre

é o processo do passado

é a violência, a erosão.

A quase morte.

Quase.

E para o deleite dos olhos: Sexta-Feira.

O vazio da ilha da existência se preenche.

Nativo, voraz.

Convulsivo dos adjetivos impróprios.

O dia-amigo-messiânico

A salvação.

A fragmentação da memória é impiedosa.

Amortece os joelhos e sacode as estrelas.

Mantém sobre a cabeça o ego do conquistador.

A vida fazendo água.

Sem remo nem braço que aguente tantas léguas.

A ilha da irrelevância, casa de Sexta-Feira, inebria.

Nocauteia.

Amassa os rascunhos de sorte.

Sexta-Feira engole os homens

digere os restos de consciência

Humilha os exaltados e sempre será de César o que nunca será meu.

Seja por ser o abre-alas da morte

ou simplesmente pelo fato de se repetir, Sexta-Feira é o ensaio geral do fim.

É o teatro sem cortinas.

Dança as valsas

mata os heróis

faz dançar os mendigos.

Aplausos.

Sem plateia, sem sinal, sem fim de ato.

O palco aberto, o paraíso solitário.

O sol.

No mais, nada menos.

Sexta-Feira não é a ilusão do progresso.

É a indiferença da realidade.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 07/04/2017
Código do texto: T5964469
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