Sexta-Feira
Até que aqui nos ajudou o privilégio.
"A água passa, a areia fica no lugar"
Para nós, areia. Pros outros, todo mar.
Tanto sal, tanta condescendência.
O mar do náufrago, deserto.
Insalubre
é o processo do passado
é a violência, a erosão.
A quase morte.
Quase.
E para o deleite dos olhos: Sexta-Feira.
O vazio da ilha da existência se preenche.
Nativo, voraz.
Convulsivo dos adjetivos impróprios.
O dia-amigo-messiânico
A salvação.
A fragmentação da memória é impiedosa.
Amortece os joelhos e sacode as estrelas.
Mantém sobre a cabeça o ego do conquistador.
A vida fazendo água.
Sem remo nem braço que aguente tantas léguas.
A ilha da irrelevância, casa de Sexta-Feira, inebria.
Nocauteia.
Amassa os rascunhos de sorte.
Sexta-Feira engole os homens
digere os restos de consciência
Humilha os exaltados e sempre será de César o que nunca será meu.
Seja por ser o abre-alas da morte
ou simplesmente pelo fato de se repetir, Sexta-Feira é o ensaio geral do fim.
É o teatro sem cortinas.
Dança as valsas
mata os heróis
faz dançar os mendigos.
Aplausos.
Sem plateia, sem sinal, sem fim de ato.
O palco aberto, o paraíso solitário.
O sol.
No mais, nada menos.
Sexta-Feira não é a ilusão do progresso.
É a indiferença da realidade.