O Pulsar do Tempo.

Pois é, meu caro, suas barbas ficaram brancas.

Muitas primaveras...

São tantas...

Aquelas preocupações que outrora lhe arrancavam cabelos...

Hoje são meros devaneios que não pesam na balança.

A ganância dos homens por ouro e níquel é tão intensa como a ânsia que passa pelo olhar austero da criança que aprecia lá de longe o tempo da chegada à cozinha e aos quitutes da tia Constância.

Ao velho moribundo que arrasta seus restos de dias como quem não vê a hora de partir para aquele lugar onde ninguém quer ir, mas que é a ordem natural dessa coisa chamada existência.

Não ganhou dinheiro...

Apenas o suficiente para não morrer...

Não conquistou glorias e honrarias...

Apenas o amor nas estantes das bibliotecas, sebos, livrarias e bancas de revistas...

Não viajou a Londres...

Londres é muito longe...

Foi até a esquina e viu a lua prateada pendurada no fio invisível do cosmos...

Conquistou alguns amores...

Outros dissabores...

Andou de ambulância quando uma bactéria tentou arrastá-lo para a outra instância...

Escreveu tantas e tantas palavras que até os dicionários, amarelecidos, partiram em debandada...

Estudou, perdeu parte da visão, enxergou além e dentro de si mesmo...

E no recôndito escuro da reentrância...

Murmurou sozinho num vago sonho daquele que nunca na vida deixou de perder a esperança.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 26/04/2017
Reeditado em 26/04/2017
Código do texto: T5981955
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