EU E A PORTUGUESA
Sonhador, idealista, de confusas entranhas mentais,
Sempre fui cultivador da liberdade irrestrita;
Opositor ferrenho de uma existência constrita;
Expresso-me, utilizando nobre arma: a escrita.
Quanto subterfúgio para escapar de boçais,
Espalhados por diversos e poderosos anais,
Que impõem e não admitem qualquer contradita
Sobre regras, tendenciosas, banais.
Quando a mente, adolescente, primeiro palpita,
A emoção prevalece e o coração se compraz.
As paixões se sucedem, e cada uma é fugaz,
E o caos, que ensina, não consegue forjar paz.
Nesse tempo, o ideal a mente excita,
Em paralelo aos hormônios carnais,
E foi quando arrisquei harpejos artesanais;
Busquei novo sentido entre acordes anormais,
E tentei mostrá-lo a um público de mil ouvidos,
Mas ele não gostou, vaiou e coisas tais.
Enveredei pelo mundo dos poemas ocasionais,
Para, na letra, extravasar aquela tamanha desdita.
Na floresta gramatical, minh’alma quedou-se aflita,
Tentando se aventurar em proeza erudita;
Mas não pude brincar em alheios quintais.
Minha essência é modesta, e no simples gravita.
Em meu parco talento, toda rima é finita,
Por isso, na prosa encontrei novo cais,
E parti para mares austrais e boreais,
Cujas ondas agitam as formas textuais,
Traduzindo em palavras o que a idéia suscita;
Transcendendo a forma de rigores literais.
Todavia, respeito os pilares formais,
Normatizadores da fala transcrita,
Que como portuguesa é que se identifica,
Abrasileirando tudo que explicita
E gerando literatos magistrais.
Sua fonte literal é irrestrita!
Vernáculo de infinitos cabedais!
Minha mente necessita,
Quando a inspiração regurgita,
Digitadas, manuscritas,
Mensagens atemporais
Ou uma crônica restrita;
De tuas credenciais,
Tuas bases estruturais;
Pois só assim se habilita
A exibir, bem bonita,
E perfeitamente descrita
A palavra que saltita
Entre irmãos lusofonais.