Monólogo de um plebeu da Rainha Devassa do Brejo

Oh, falsa Rainha e meretriz

Despertaste em mim um amor distinto

Um sentimento diferente, morno e ácido

Como o leite quente do teu peito murcho com mastite.

Como uma adolescente subdesenvolvida

Assediando-me com seu charme ardiloso.

Mas menina velha desdentada pelos anos,

Prostituta geradora de ilusões

Que embriaga com sua cachaça batizada

Enganando com seu jeitinho de rapariga

Aos olhares encantados dos amantes

Aquela pureza toda ficou poluída como os teus rios

Cheios de lixo, dejetos e bosta boiando a céu aberto.

Meus sonhos foram arrastados pelos rios

Guarabira, o Araçagi e o Mamanguape

Assim como os teus filhos que morreram de graça.

As tuas pernas arreganhadas

Para os ônibus na rodoviária

Esconde teus vícios e maus-tratos

Rainha do Lixão fumegante

Espalhando mosca nos pratos das madames

E chorume negro nas cacimbas do futuro.

Não és digna dos teus artistas

Que nascem nos saraus subversivos

Recitando maldizeres e infâmias

Pintores malditos dormindo ao relento

Na contramão de tua história ortodoxa e arcaica

Das mentes controladas pela elite iletrada

Dane-se, Guarabira

Com sua revolução tímida

Dos seus loucos marcados para morrer

Nem que seja de raiva, de fome, ou de tédio

Atrapalhando a procissão de pobres com manias de grandeza

E uma elite decadente fazendo caridade

Para ganhar pontos no céu e votos nas urnas

És um quadro desbotando lentamente

Nas mãos feridas de um poeta abandonado.