SALIGIA

Como resistir tão duramente

As artes capitais impregnadas na carne?

O licor do inferno tenta por tudo

Corromper a seiva celeste do corpo.

Tento negar a morosidade, a suspensão

Da vida pela preguiça tenra e fácil.

Tento abandonar a permissividade

Abusiva da luxúria na flor da matéria.

Tento regrar a deliciosa orgia da língua

Pelos sabores dado pelo desespero da gula.

Tento ceder com destreza aquilo que tenho

Para dividir o prêmio acumulado da avareza.

Tento honrar o mérito alheio, seu ganho,

Sua beleza para trincar a inveja dos olhos.

Tento abraçar a paciência dos dias calmos

Para blindar a ira que cega as atitudes.

Tento pelas palavras e atos semear humildade

Para combater toda soberba, mãe capital do Céu.