A Perda
A Perda
Quando o filho, uma mãe perde
Pras forças da natureza
Sente que o túmulo engole
Tanta cor, tanta beleza
Então passa muito tempo
No desespero e na dor
Sentido a punhalada
Da perda do seu amor
E assim os anos passam
E ela vai aprendendo
A viver sem seu pedaço
A vida vai refazendo
Aprende que não se pode
Controlar tudo na vida
Que na vida o que se espera
É que seja bem vivida
Percebe então que a fé
Que lhe sustenta e anima
Que Deus que tudo criou
É que sabe tudo e assina
Vai se enchendo de esperança
Pois não tem mais jeito, não
Não adianta espernear
Esbravejar, dizer não
Vai mesmo se conformando
Por não ter saída, não
E mostrar que aceitou
Mas no fundo vai pensar
Que seu filho não morreu
Que ela se enganou
Que ele vai voltar
Mais cedo ou mais tarde
Mas de tanto esperar
Vai surgindo a realidade
De que aquele que embalou
Em seu seio de aconchego
Ou na mamadeira quentinha
Nos braços de quem criou
Agora foi-se pra longe
Que ela não consegue ver
Mas dentro do coração
Faz morada infinita
E então ela percebe
Que seu filho não morreu
Que está mais vivo ainda
E que mora lá o céu
É assim que o amor de mãe
Vai mostrando uma certeza
De que o seu filho continua
Vivo mais que a natureza
Pois sentimento de mãe
É grande como se vê
Encontra no peito, abrigo
É forte porque ela crê
Para se manter de pé
Tem que vencer com doçura
E voltar a sorrir na vida
Enterrando a amargura
No mesmo túmulo que um dia
Enterrara com desvelo
Agora tem a ventura
De encontrá-lo com certeza
Acabando o desespero
Antes ela expressava
Insegurança e temor
Se revolta contra vida
Se revolta contra Deus
Mas uma hora despertou
Para entregar um dia o filho
Àquele que lhe deu a vida
E agora arrancou dos braços seus
E passa a olhar o filho
Como anjos do senhor
Que a terra expulsara
Mas que em algum lugar
Alguém zela por ele
Como ela o zelou!