Identidade

Eu sou a prosa morta do cantador

A carne esturricada pelo sol das onze

A estrela cansada que brilha longe

Acabada e rota em seu decurso

Eu sou o grito grave do último homem

A gutural lamentação do nordestino

O badalar exausto do antigo sino

Chamando quem ainda deveras crê

Eu sou a cor doente da rosa pálida

O caule torto da flor sozinha

Regozijando as dores minhas

Vendo arder a furta mágoa da renúncia

Eu sou o manto austero do padre velho

O desalento do portão enferrujado

A penúria do espírito açoitado

Na noite vaga da imensidão do campo

Eu sou o descompasso da poesia

O olho deserto da senhora viúva

Não sou a água, mas a espuma

A crista que emerge no mar de agosto

Tão exausto é o mundo

E tão cheio de nada...

Eduardo G Silva
Enviado por Eduardo G Silva em 28/06/2017
Reeditado em 28/06/2017
Código do texto: T6040018
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