Borderline
~Borderline~
|Posso tentar ficar são
Mudar minha alimentação
Mas não
Ela nunca vai passar
Até me esmagar por completo
Chega sem convite
Sem papo-reto
São só sussurros
Por vezes berro
Ela se insinua
Mostra a nuca
Um dedo médio
Parece estar nua
Mas não me dá tesão
Ela gosta de luz-e-sombra
De solidão
?Por que todos que têm com ela sentem dor nos ossos?
Doem os ossos por acaso?
Ela me diz para abrir as janelas
Que faz um sol de rachar lá fora
!Não!
Um engodo
Mantenho as janelas fechadas
Por precaução
Pois podem me vomitar
Como têm feito a muitos por aí
E os restos são difíceis de limpar
E toda vez que sou ridicularizado
E quando gritam impropérios contra mim
Ela simplesmente olha e ri
Ela também sabe sorrir
E sabe como me fazer sentir patético
A cada vez que minha mente claudica
Cada vez que minha voz some
E as borboletas no estômago
Se tornam em aves de rapina
E a cada vez que minha vista embaça
E minha mãos tremem
É ela quem me conduz
E-le-gan-te-men-te
Pr'algum lugar só dela
Então ela massageia minhas têmporas
Deixando minha cabeça pesada
Daí tudo se torna chão
Tudo se torna terra
Chão sem sem fim e nem começo
É chão de terra
Que ecoa as palavras do livro
"Para o pó tornarás"
Eu tento rezar uma prece
E lembro de haver esquecido
Como se reza
Ela percebe meu murmúrio
E outra vez zomba na minha cara
"Suas orações
Elas não ecoam
Vê
São dirigidas a um deus surdo-mudo"
Meço o chão a minha frente
Estou mesmo tornando ao pó da terra
É uma distância erma
Que cansa a vista
Daqui até meu futuro
Um futuro preguiçoso
Que me espera com parcimônia
Minha cabeça inchada
Pesada
Tomba na terra
Rola alguns metros
Enche-se de pó e vazio
Retorno ao nada
Sou nada
Infinitamente nada|