Borderline

~Borderline~

|Posso tentar ficar são

Mudar minha alimentação

Mas não

Ela nunca vai passar

Até me esmagar por completo

Chega sem convite

Sem papo-reto

São só sussurros

Por vezes berro

Ela se insinua

Mostra a nuca

Um dedo médio

Parece estar nua

Mas não me dá tesão

Ela gosta de luz-e-sombra

De solidão

?Por que todos que têm com ela sentem dor nos ossos?

Doem os ossos por acaso?

Ela me diz para abrir as janelas

Que faz um sol de rachar lá fora

!Não!

Um engodo

Mantenho as janelas fechadas

Por precaução

Pois podem me vomitar

Como têm feito a muitos por aí

E os restos são difíceis de limpar

E toda vez que sou ridicularizado

E quando gritam impropérios contra mim

Ela simplesmente olha e ri

Ela também sabe sorrir

E sabe como me fazer sentir patético

A cada vez que minha mente claudica

Cada vez que minha voz some

E as borboletas no estômago

Se tornam em aves de rapina

E a cada vez que minha vista embaça

E minha mãos tremem

É ela quem me conduz

E-le-gan-te-men-te

Pr'algum lugar só dela

Então ela massageia minhas têmporas

Deixando minha cabeça pesada

Daí tudo se torna chão

Tudo se torna terra

Chão sem sem fim e nem começo

É chão de terra

Que ecoa as palavras do livro

"Para o pó tornarás"

Eu tento rezar uma prece

E lembro de haver esquecido

Como se reza

Ela percebe meu murmúrio

E outra vez zomba na minha cara

"Suas orações

Elas não ecoam

São dirigidas a um deus surdo-mudo"

Meço o chão a minha frente

Estou mesmo tornando ao pó da terra

É uma distância erma

Que cansa a vista

Daqui até meu futuro

Um futuro preguiçoso

Que me espera com parcimônia

Minha cabeça inchada

Pesada

Tomba na terra

Rola alguns metros

Enche-se de pó e vazio

Retorno ao nada

Sou nada

Infinitamente nada|

Luiz Eduardo Ferreira
Enviado por Luiz Eduardo Ferreira em 28/06/2017
Reeditado em 30/08/2017
Código do texto: T6040155
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