Penitência
Eu tenho escondido por detrás de um riso frouxo
A minha grande batalha interna
A crucificação do meu peito largo
E o exílio da minha juventude
Tenho assistido ao nascimento da minha mágoa
Do meu desgosto e minha indignação
Sentimentos rotos e repugnantes
Sustentados pelas pilastras dos meus erros
Tenho mascarado numa dor comum e quotidiana
A minha grande dor real
Íngreme, cauterizante e árdua
Lavada nas águas do poço da perda
Tenho engasgado num grito desesperado
Sufocado pela dor da renúncia
Fortalecido pela monotonia da vida
Em contrapartida com a leveza dos teus olhos
Eu tenho amargado o gosto da ida
A morte da minha rosa
Anunciando que a água que a nutria
Não era água, mas sangue
Tenho vivido a humilhação da derrota
Monótona e insistente
Me mostrando em momentos presentes
O desgosto ora estampado na cara
Tenho suportado meu próprio corpo
Tenho tecido o esboço do meu nada
Me rasgado com meus próprios espinhos
E aberto as feridas da alma
Tenho preenchido minhas horas vazias
Com a lástima da impotência
Tenho aguentado a sádica penitência
De um crime que não cometi
Eu sou a bomba que nunca explodiu
A mão que nunca afagou
O coração que sempre amou
O vento que nunca soprou