Penitência

Eu tenho escondido por detrás de um riso frouxo

A minha grande batalha interna

A crucificação do meu peito largo

E o exílio da minha juventude

Tenho assistido ao nascimento da minha mágoa

Do meu desgosto e minha indignação

Sentimentos rotos e repugnantes

Sustentados pelas pilastras dos meus erros

Tenho mascarado numa dor comum e quotidiana

A minha grande dor real

Íngreme, cauterizante e árdua

Lavada nas águas do poço da perda

Tenho engasgado num grito desesperado

Sufocado pela dor da renúncia

Fortalecido pela monotonia da vida

Em contrapartida com a leveza dos teus olhos

Eu tenho amargado o gosto da ida

A morte da minha rosa

Anunciando que a água que a nutria

Não era água, mas sangue

Tenho vivido a humilhação da derrota

Monótona e insistente

Me mostrando em momentos presentes

O desgosto ora estampado na cara

Tenho suportado meu próprio corpo

Tenho tecido o esboço do meu nada

Me rasgado com meus próprios espinhos

E aberto as feridas da alma

Tenho preenchido minhas horas vazias

Com a lástima da impotência

Tenho aguentado a sádica penitência

De um crime que não cometi

Eu sou a bomba que nunca explodiu

A mão que nunca afagou

O coração que sempre amou

O vento que nunca soprou

Eduardo G Silva
Enviado por Eduardo G Silva em 09/07/2017
Código do texto: T6049468
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