Um verso ao inverso

Paro e penso.

Sinto-me propenso

a escrever um verso

sem razão ou consenso...

Um Universo reverso.

Mas meu verso desejo

com tudo que eu vejo,

que eu ouço e que eu falo;

com tudo que penso

em meio ao silêncio

de quando me calo!

Defendo-me da rima

que me vence

embaixo ou em cima;

ela que se exprima

e deixe que eu pense!

Paro e penso.

O papel é extenso

e a rima se estende,

estica-se e se alarga;

porém, volto à carga

e ela me entende...

Penso escrever um verso...

Mas o assunto é diverso

e se ramifica ao passo

que no papel me desfaço

de todo o meu universo.

Paro e penso;

o papel é extenso...

Um verso não imerso

no silêncio culto e prático

de um pensamento estático

de sentimentos, vazio;

de um ser alienado e frio...

Que meu verso remexa

no que a verdade esconde

e no que a mentira deixa

já não se sabe mais onde.

Paro e penso...

Já não tenho o bom senso

de criar com cuidado

um verso sem contra-senso,

um verso bem-humorado.

Defendo-me da forma

que me supera

e apenas espera

criar outra norma

para engolir a fera

que é o meu verso;

o verso não escrito,

abençoado ou maldito

por todo o Universo!

Um verso que não escrevo

por não senti-lo...

E sendo assim, não me atrevo!

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 18/10/2005
Código do texto: T60654