Seres vis não sufocam meu grito

Vidas se esvaindo em leitos hostis

Sórdidos facínoras em seus covis

Camundongos imundos em seus monturos

Ratos esbaldando-se em meu sangue puro

As vozes d'África em agudos tons

Ouvidos inglórios escutando os sons

Difícil dizer de horríveis momentos

Em que de imensas vagas sou o alimento

Em que ao vento vai meu assustado grito

Em que seres vis me vêem aflito

Mas não me canso de meu grito enviar

Não perco a esperança, não vou parar

Porque sou negro, sou muito forte

E vivo renascendo nos braços da morte

Mas a qualquer instante meu Deus vai chegar

E quando o meu Deus chegar

Vão ouvir meu cantar

E também vou falar

Vou falar do que vi, e do que senti

De como vivi, do quanto morri

Vou falar do que sou, falar porque vou

Vou falar do que fiz, porque também fiz

Fiz religião, fiz gastronomia

Política eu fiz, fiz sociedade

Cultura eu fiz e africanidade

Fiz música, dança e brasilidade

E eu também fiz, este imenso país

Mas eu sou um estranho

Neste país, que eu também fiz

Com inteligência

Também fiz ciência

E hoje faço com!

Ciência!

Negra!

No país em que vivo o tempo todo aflito

Porque seres vis não sufocam meu grito.

Francisco Adenilson
Enviado por Francisco Adenilson em 31/07/2017
Reeditado em 31/07/2017
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